O Partido dos Trabalhadores e os Senhores de Engenho do Século XXI

Há quem diga que o tempo dos coronéis já passou. Que as velhas oligarquias deram lugar à democracia participativa, ao povo no poder. Mas basta um olhar mais atento para perceber que alguns senhores de engenho ainda resistem, agora disfarçados de guardiões da esquerda. Não mais donos de canaviais, mas de diretórios. Não mais senhores de escravos, mas de votos.

No Partido dos Trabalhadores, o partido nascido da luta operária, da base, da esperança, há quem confunda legado com propriedade. São figuras que, por terem estado lá no início, na fundação, nos primeiros comícios, nos tempos de chumbo e resistência, acreditam ter conquistado um direito vitalício de mandar. A política virou latifúndio e, como bons herdeiros do colonialismo, negam espaço aos filhos da terra.

Nas cidades do interior e até na região metropolitana, esses coronéis de paletó e discurso progressista escolhem a dedo seus afilhados. Se um jovem, nascido e criado na comunidade, ousa sonhar com um cargo público ou liderança no partido, logo é podado. “Não tem experiência”, dizem. Mas a verdade é outra: falta apadrinhamento.

O que poderia ser um processo democrático e enraizado na realidade local vira um balcão de favores. Eles decidem quem pode ser candidato, quem deve se calar, quem serve aos seus interesses. Tornaram-se reis de um feudo imaginário, onde o povo é só massa de manobra, e os “companheiros” de ontem viram os caciques de hoje.

Esses velhos donos do poder confundem militância com servidão. E, com isso, sufocam o futuro do próprio partido. Porque onde não há renovação, há estagnação. Onde não há escuta, há imposição. E onde só há vaidade, não sobra espaço para a luta coletiva.

Talvez seja hora de lembrar que nenhum mandato é herança, que nenhuma cidade tem dono, e que o verdadeiro líder é aquele que planta o poder nas necessidades do povo e não o poder para si mesmo.

Escrito por: Lauderlan Leal